12 de agosto de 2012

Feliz Dia dos Pais! [2012]


As lembranças que tenho de meu pai são indiretas, passam por outros formatos e relatos até chegar a mim. Essas memórias são multifacetas: são fotos que nunca me explicaram o contexto; é a lembrança de um velho vídeo que foi devorado pelo mofo e perdido pelas caixas esquecidas de meus tios, que em um curtíssimo trecho havia um registro da voz do velho; são as lembranças de meus primos distantes, com quem pouco falo, que se lembram de momentos divertidos com o Tio Barba, sempre ouvindo Raul Seixas; é a memória do relato de um tio, melhor amigo de meu pai e que também faleceu anos depois, de como aconteceu o acidente, tudo confirmado pelo atestado de óbito, que uma vez achei pelas gavetas de minha mãe; sou eu, sendo visto pelos irmãos dele e ouvindo “ele parece muito com o Antônio”.
Há anos, eu tento compor o quadro, montar o quebra-cabeça com informações que se complementam, mas também se contradizem. Ao mesmo tempo em que o relatam como um grande cara, justo e decidido, outros apontam para problemas de saúde. Nada é certo, afinal são memórias e hoje, com 28 anos depois de sua morte, encontro-me em meio a uma encruzilhada de ausências, pois não sou pai ainda, mesmo tendo um apreço muito grande pelos meus alunos em quase uma década de magistério, mas também não sou filho, pelo menos, não sou o filho de um pai. Não poderei abraçá-lo hoje e dizer que o amo.
Depois de tantos anos, compreendi que esse quebra-cabeça de lembranças talvez nunca pudesse ser completado. Sempre faltarão peças, já que ele não está mais aqui. Mesmo que as lembranças cheguem perto de completá-lo, isso nunca o trará de volta. Lembrança e esquecimento, dor e resignação, no fim das contas, ele não está aqui, não importa o quanto eu lute. Brigo para não esquecê-lo, luto para manter viva em mim a sua memória, mas tenho consciência que se lembro dele, é porque esqueci outras tantas coisas, e se o esqueço, mesmo que por algumas horas, é porque havia tantas outras coisas para lembrar.
Se ser adulto é difícil, sem uma figura paterna é algo realmente complicado... agora vão lá abraçar os pais de vocês que nem ir no cemitério visitar o túmulo de meu velho eu posso.
Passar bem!

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