19 de julho de 2011

"estado crônico: cidades, cidades"

As linhas no asfalto passam rápido, a noite fica cada vez mais clara com o passar dos minutos, pois as luzes dos letreiros neon já tentam cumprir seu papel desde cedo. É como se essa cidade gigantesca e megalomaníaca tentasse engolir cada uma dessas pessoas de rostos cinzas dentro do ônibus. Cada um desses rostos traz um mundo particular através dos olhos, mas a cidade restringe, generaliza e, então, acabam todos tornando-se partes desse organismo, como células fadadas a morrer pelo próprio elemento que as mantêm vivas: oxigênio.

É sempre estranho estar longe de onde se acredita ser seu lar, mas, por algum motivo, essa cidade, que tenta engolir, generalizar e transformar-me em números ou células, é o único lugar até hoje em que não senti estranhamento algum ao chegar. Alguns podem chamar de bravura, pois diante da megalópole que tende a diminuir o indivíduo, eu aceitei o desafio e não me sinto apenas mais um encolhido de frio em um canto do ônibus com o rosto cinza e quase sem vida. Contudo, também podem alegar que seja burrice ou insanidade da minha parte, pois quando se luta contra algo tão forte quanto essa cidade “recheada de outras cidades”, a tendência é sempre perder, devido a sua força e ao tempo que sempre conta a favor dela.

Entre a bravura e a burrice, continuo aqui, outra vez de passagem, outra vez rápido demais. Logo regressarei à província, que tem sonhos e lampejos de metrópole, mas que tem todo seu acanhamento a cada esquina que se passa, dentro de outros ônibus, mas com rostos que me parecem cada vez mais cinzas.


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da série "estado crônico"

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